Parte 8 - Pedro


 Ocupar espaços que existia dentro da Marina foi muito difícil. Não era fácil lidar com ela, apesar de ser um amor de pessoa, porém num momento estava falante e risonha, no outro já estava com aquele olhar de preocupação e tristeza.

Como na vez em que fomos colocados como parceiros num trabalho. Reparei em como ela ficou pálida quando a professora nos colocou juntos, alegando que havia notado como estavámos evoluindo nos estudos. Confesso que não entendi muito bem, parecia até que ela ia desmaiar, a acalmei mostrando que poderia pedir a professora para nos trocar de dupla se ela quisesse. O que aconteceu logo em seguida foi vê-la arrastando a cadeira até mim, olhar bem dentro dos meus olhos e ouvir um "não, tudo bem" e um silêncio obscuro.

Aquilo me deixou nervoso. Parecia que ela estava se distanciando de mim. Não deixaria todo o esforço que fiz ir por água abaixo. Só não sabia como fazê-la falar mais da sua vida pessoal; acho que era aí que estava o problema. Ela nunca falou nada dos pais, só da melhor amiga Beatriz, ou Bê, como ela a chamava carinhosamente.

Depois de um tempo Marina relaxou e passou a ser a mesma menina divertida com olhos tristes que eu estava acostumado. Entre um debate ou outro sobre aqueles textos horríveis, ela me contou como foi seu passeio na semana passada no shopping e que havia ido cinema sozinha. Isso partia meu coração: sua solidão. E não passava despercebido, ela notou meu olhar.

- O que foi? - ela sorriu.
- Você. - disse sem nenhum humor.
- Eu? O que tem?
- Indo sozinha por aí.
- Eu já tô acostumada, não liga pra isso. E além disso, a Bê não pode ir comigo. Teve que acompanhar a mãe em algum lugar.
Tomei coragem e disse:
- Porque não me chamou? Eu iria com você!
Ela sobressaltou-se.
- Vou lembrar disso na próxima vez. - disse isso franzindo a testa, ela sempre fazia isso.
- Mesmo? - dei-lhe um olhar atravessado e questionador.
- Sim! - enfatizou e completou: - Independente do gênero?
- Sim, claro.
- Até mesmo um romance de chorar litros?
Não tive como não ri do seu riso travesso. O que também me levou a sorrir.
- Sim, Marina, até um água com açúcar. Só não quero saber que você está sozinha, combinado?
Ficamos subitamente em silêncio quando a professora passou por nós, olhando como estava o andamento dos exercícios. Foi bom que me acalmei. Era muita coragem para um único dia.
- Tá. Obrigada. - a ouvi sussurar - Então já devo lhe avisar que amanhã vou ao cinema denovo, vai estrear um filme que quero ver. 
- Ok. Que horas?
- Vou depois da escola. Sessão das 14 horas... Tudo bem? 
- Ok, não tenho treino amanhã. Espere... - peguei um pedaço de papel e anotei meu telefone celular. E continuei:  - Me ligue se houver mudanças de planos tá?
E ela apenas pegou o papel e concordou com um balançar de cabeça.

Estava mais uma vez próximo dela.

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